terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Estrelas Cadentes

     Deito-me no chão. Olho para o céu escuro, iluminado apenas pela presença das estrelas. Lua nova. Quão bela visão. Uma tela preta, pintalgada de milhões de pontinhos amarelados. Que artista pintou este quadro? Que mente genial idealizou este belo e complexo desenho? Não tenho resposta, nem preciso de ter. Estou ali deitado a deslumbrá-lo e isso chega-me. Sinto-me sortudo, aliás, todos nos deveríamos sentir. Algo tão incrível, que podemos contemplar todas as noites, e é grátis de assistir. Não precisamos de fazer nada, simplesmente erguer a cabeça e ali está, à vista de todos, uma obra de arte. Embora muitos não o saibam, as coisas mais belas da vida são grátis. Ali está a prova disso.
     Passa uma estrela cadente. É a primeira vez que vejo uma, mas sei o que devo fazer. Agora que penso nisso, estava mesmo a precisar de uma estrela cadente. Quase nem tive tempo de a "saborear", foi tão rápida. Na minha cabeça imagino-a como uma pincelada rápida do pintor, que ainda não acabou o seu quadro e que continua a pintar, enquanto olho para o céu. Aquele toque foi de génio, tudo ficou mais belo com aquele pormenor. Apresso-me a pedir um desejo. Não sei se existe um tempo limite para o fazer, mas sei que não quero perder esta oportunidade. Fecho os olhos e peço com força. Nada acontece. Não desanimo. O pintor não demorará a dar outra pincelada daquelas sabendo que adiciona tanta emoção ao seu quadro.
     Pelo canto do olho, uma outra estrela cadente. Um pequeno riso escapa-se-me por entre os lábios. Novamente me apresso a pedir o desejo e... silêncio. Nada mudou. Continuo ali... só eu e o mundo. Só eu e o quadro em progresso. Não estou triste. Muitas mais estrelas hão-de passar, e talvez se eu pedir o mesmo desejo em todas elas, ele se acabe por realizar. Nem que seja por eu ser chato e o pintor esteja farto de desenhar estrelas cadentes para mim. Talvez ele me conceda esse desejo só para poder continuar o seu quadro sossegadamente. Perscruto o céu calmamente. Talvez ele já tenha dado novas pinceladas e eu nem tenha dado conta. Tenho de estar atento. Vi outra. E outra. E mais uma. Pedi em todas o mesmo desejo, mas mais uma vez... nada. Quem disse que as estrelas cadentes podiam conceder desejos, enganou-me. Não perco a esperança, porém. A esperança é a última a morrer. Respiro fundo, fico muito quieto e...
     Adormeci. Mas acordei passado poucos minutos. Não sei o que este artista fez durante o meu breve sono, mas todas as estrelas estão mais brilhantes. Não dormi muito tempo, mas ele foi suficientemente rápido para as retocar a todas. O quadro está cada vez melhor. Enquanto estou a apreciar estas novas estrelas, algo acontece. Uma pincelada. Mas não uma como as outras, não. Esta é mais demorada, mais intensa. Como se o pintor quisesse que eu notasse nela. Fechei os olhos e pedi novamente o desejo. Abri-os lentamente. Continuava ali deitado, no meio da relva, o céu continuava incrível como estava antes.
     Olhei para o lado... sorri.

domingo, 25 de janeiro de 2015

O Universo

     Começo por vos perguntar a vossa opinião, mais uma vez. Como sabem, tenho sempre em atenção a vossa opinião, é valiosa, mesmo que não a consiga ouvir. Formulem uma, guardem-na para vocês e continuem a ler e eu fico na esperança de que vos consiga pôr a reflectir e a duvidar da vossa opinião, ou caso partilhem a mesma que eu, quero que vejam se o meu ponto de vista adiciona algo à vossa opinião. Não digo que a minha esteja certa, é apenas uma opinião, mas se eu tiver uma tão forte que vos ponha a duvidar da vossa, então sentir-me-ei realizado.
     Então... a pergunta que vos quero colocar é: "Estaremos sozinhos no Universo? Será este o único planeta com vida?". Lembrem-se, formulem a opinião, arranjem argumentos para a defender (pois sem isso não é nada) e guardem-na, Mantenham as vossas mentes abertas às minhas palavras, ninguém gosta de "discutir" com alguém que não valorize as opiniões dos outros. Já pensaram? Têm a certeza que é isso que pensam? Muito bem.
     Como podem reparar, este tema é menos abstracto do que os últimos que tenho abordado. Mais uma vez devo referir que não falo do facto de existir ou não uma força maior, um Deus. Falo de vida, de seres vivos, as questões religiosas não serão discutidas neste blog. Em primeiro lugar, vou ter a certeza que vocês sabem a imensidão do universo. A quantidade de planetas existentes em todo o universo é inestimável, milhões e milhões de planetas, cada um diferente do outro. Vamos ser sinceros... qual a probabilidade de sermos o único planeta habitado? Qual a probabilidade de nestes milhões e milhões e milhões de planetas, não haver um único que seja, senão igual, com condições semelhantes às nossas que permitam o desenvolvimento de vida humana? Eu disse vida humana? Peço desculpa. A probabilidade de essa vida ser aquilo que nós definimos como "humana", ou seja, igual a nós, é substancialmente mais reduzida. Porém, não digo que não haja um planeta algures, em que as "criaturas" que o habitam sejam humanos, mas vamos manter-nos num panorama mais geral. 
     Quão arrogantes somos nós ao pensar que somos únicos em todo o universo? Num espaço infinito como podemos nós achar que estamos sozinhos? Lembro-me que alguém disse, uma vez "Só há dois cenários possíveis. Ou estamos sozinhos no universo ou não estamos. Ambos os cenários são assustadores". A arrogância humana não tem limites. Não somos únicos, somos parte de um todo, uma ínfima parte de um todo. E os filmes retratam os extraterrestres como criaturinhas malvadas que planeiam conquistar o mundo e destruir o nosso planeta. Será que as pessoas alguma vez pensaram que para esses "aliens" os extraterrestres somos nós? Nós é que vivemos fora do planeta deles, eles são normais à sua maneira, mesmo que tenham um aspecto completamente diferente do nosso. Será que eles também nos retratam como criaturas malvadas que querem destruir o planeta deles? (Sim, eu sei que estou a falar deles como se houvesse provas que existem, mas entrem comigo nesta hipótese). Porque têm as pessoas tanto medo do desconhecido? Porque acham sempre que o desconhecido é necessariamente uma coisa má? O que fariam as pessoas nos altos lugares da sociedade, se por acaso um ser de outro planeta visitasse o nosso? Aprisioná-lo-iam, estudá-lo-iam e acabariam por matá-lo. Um ser muito provavelmente inocente, mas o tal medo do desconhecido fala mais alto. E agora eu pergunto: quem serão os monstros? Eles, como os retratam nos filmes, ou nós?
     
     

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Sonhos

     Sou limitado, não tenho vergonha de o admitir. Aliás, até posso chegar ao extremo de dizer que todos o somos. "Ele só pode estar doido" pensam vocês. Não, não estou. Mas não somos limitados no sentido em que vocês estão a pensar. Eu passo a explicar: estamos limitados às leis da física e ao nosso próprio corpo. Não podemos viver tudo aquilo que nós queremos, da maneira que nós queremos. Não podemos voar livremente, por cima de montanhas e arranha céus. Não podemos mergulhar e explorar o fundo do mar usando apenas o nosso próprio corpo. Será que não podemos mesmo? Nunca se esqueçam que o mundo real não é o único que temos, pois seria muito triste se assim o fosse. Temos um mundo mágico a segundos de distância. Um mundo incrível onde tudo pode acontecer, onde os nossos maiores desejos podem ser "realidade". Onde o impossível é possível. Onde as regras básicas não se aplicam e podes ser quem tu quiseres, independentemente de quem és na vida real. Falo claro, do mundo da imaginação, o mundo dos sonhos. Vou falar mais especificamente do mundo dos sonhos, mas tenham sempre presente que o mundo da imaginação é igual ou bastante similar.
     Em primeiro lugar temos de distinguir sonhos (aspirações e desejos) de sonhos (imagens que te ocorrem durante o sono). Posso, apesar da sua distinção, relacioná-los. Tudo aquilo que tu desejas ser, tudo aquilo que tu aspiras ser, podes sê-lo. Mesmo que os teus desejos e aspirações sejam irreais e impossíveis de conseguir, tu podes conseguir alcançá-los. É isto que o mundo dos sonhos nos permite. Já pensaram como seria viver no mundo que nós próprios idealizámos? Viver num mundo onde fazemos as nossas próprias regras?
     Vivemos num mundo de dia e vivemos noutro de noite. Um onde todas as emoções são reais, tanto as boas como as más, onde experienciamos as coisas na pele e onde somos limitados. Outro onde tudo é um mundo fantástico e irreal, onde somos quem queremos, fazemos o que queremos e não nos limitamos a nada, um mundo que é só nosso. Na minha opinião, ambos os mundos são essenciais. Cada um é uma escapatória do outro. Quando a vida real parece má, conforta-mo-nos no mundo dos sonhos. Quando os pesadelos nos atormentam-nos, acordamos para a realidade. É a interacção destes dois mundos que nos deixa sãos e estáveis. Agora só falta fazer com que os nossos sonhos, não sejam apenas sonhos.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Tempo

     50!
     Sim, 50!
     50 quê? - perguntam vocês.
     Bem, 50 dias.
     Para quê? - questionam-se novamente.
     Isso não interessa. Como podem ver pelo título, o que interessa é o tempo. 50 dias é muito ou pouco? Sei que disse no primeiro post que o tempo é relativo, mas gostava de ter uma opinião. É suportável diria eu. 
     Vamos pensar um pouco sobre o tempo então. Que coisa estranha esta, não é? Supostamente o tempo é uma linha contínua, regular. Porém, basta pensarmos um pouco e vemos que na verdade não é assim tão regular. Não passa sempre com a mesma velocidade. Por vezes é lento, por vezes é rápido. Como pode isto ser? 
     O tempo finge-se regular. O tempo é matreiro. O tempo é maldoso. O tempo corre quando estamos a fazer o que gostamos, quando estamos com aquela pessoa. Não nos quer deixar aproveitar todos aqueles momentos. Esvai-se. Porém, o tempo não pensou o suficiente nisso. Ou talvez tenha pensado e afinal não seja assim tão cruel. Quando vemos quão rápido ele corre, fazemos de tudo para conseguir tirar o máximo possível desse curto período, antes que ele desapareça. Sem querer (ou de propósito, não quero estar a julgar algo sem ter provas), o tempo faz-nos viver os momentos com mais intensidade.
     Talvez, agora que me viram defender as atitudes do tempo, se perguntem: "Se o tempo é tão bondoso, então porque não podemos recuar e reviver os momentos especiais ou alterar os maus momentos?" ou então "Porque é que está sempre a passar? Porque não pára? Porque nos deixa desaparecermos assim?". Ao pensar na resposta a estas perguntas, ainda fico com mais certezas que o meu primeiro julgamento estava errado. O tempo é bondoso. A vida é feita de bons e maus momentos. Ambos são marcantes e ambos são essenciais. É com os erros que se aprende. Se nós somos as pessoas que somos hoje, isso deve-se a tudo aquilo por que passámos. Os maus momentos são marcantes e moldam grande parte da nossa personalidade, tornam-nos pessoas melhores, fazem-nos ter vontade de não repetir os erros que fizemos e a fazer de tudo para que esses maus momentos não voltem a acontecer.
     Se pudéssemos voltar atrás para reviver os bons momentos, permaneceriam especiais? Pergunto-vos isto, e quando tentarem responder, verão a razão para o tempo não recuar. Algumas das melhores coisas da vida são as coisas únicas, que acontecem apenas uma vez. Como aquele beijo que começou tudo, que te ficará sempre na memória. Que ainda hoje pensas nele e talvez te ocorra "Seria tão bom revivê-lo", mas por cada vez que o revivesses, iria perder significado. Esse beijo é bom porque foi único. Foi o primeiro de muitos outros, mas foi aquele que sempre ansiaste.
     Respondendo agora à segunda pergunta. Sim, o nosso tempo é finito. Assim como as coisas únicas são especiais, também as coisas finitas o são. Sabendo que temos o tempo limitado, seguimos o lema (ainda que não sempre) de "Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje". Aproveitamos cada momento, sabendo que talvez possa ser o único. Não sabemos o futuro, não sabemos quantos mais beijos podemos dar, quantas mais gargalhadas irão ecoar pelos corredores da nossa casa, quantos mais sorrisos vamos conseguir arrancar àquela pessoa especial. Então, sempre que temos oportunidade de o fazer, fazê-mo-lo. Se o tempo parasse, se fosse infinito, continuaríamos a aproveitá-lo assim tão bem? Duvido. Mas esta é a opinião de um simples mortal que não tem mais que uma vida finita, os dias contados e alguém com quem viver todos eles.
    Ups, já me ia esquecendo. Nem reparei nas horas. 49!

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O Poder das Palavras

     Não planeio dar uma lição de português. Não é o objectivo deste blog ensinar-vos a ser politicamente correctos ou a saber como usar as palavras. Apenas quero reflectir um pouco no poder que simples palavras têm e no qual nós, muitas vezes, nem sequer reparamos.
     A metáfora, um pó mágico, utilizado para transformar algo numa coisa completamente diferente, que de alguma maneira se relaciona com o pensamento "real". A depressão é um monstrinho que suga a luz por onde passa, que se alimenta de memórias felizes e as consome até restarem apenas as coisas más. Sabe bem, não sabe? Pôr as culpas num monstrinho inexistente. Meter na cabeça que o monstrinho é invencível e não o podemos combater, temos de o ver alimentar-se de nós até que se canse e se vá embora. Sabe bem não sermos culpados de nada. Às vezes parece tão bom ser impotente, ou achar que o somos. Fingir que não conseguimos lidar com algo, apenas para termos uma desculpa para não lidar com isso. Bem, vejam lá se a metáfora não é o ideal para isso?
     Sabem o que ainda sabe melhor? Eufemismos. Fazem tudo parecer mais simples, mais agradável."Ele foi para um lugar melhor", ajuda-nos a enfrentar a dura realidade (eu sei que isto tem a ver com a fé e religião, mas não vamos entrar por aí, vamos apenas pensar nisto como um simples eufemismo). Já não somos crianças, sabemos perfeitamente o que aconteceu, ainda assim, por alguma razão, usar estes eufemismos, acalmam-nos. Não sabe tão bem podermos-nos esconder atrás de metáforas e eufemismos?
    Dois mecanismos tão eficazes no que toca a toldar a realidade, a tornar suportáveis as coisas más. É este o poder das palavras. É impressionante como uma simples alteração das palavras pode ter efeitos tão fortes. Claro que não funcionam só para melhorar aspectos negativos, excepto os eufemismos, que é mesmo esse o seu objectivo.
    Usem e abusem destes recursos, mas não deixem que vos impeça de ver a realidade. É bom viver protegido atrás de palavras e pensando que tudo é melhor do que é na realidade. Mas por muito dolorosa que a realidade possa ser, temos de a enfrentar e sair vitoriosos. Não é ficando de braços cruzados que vamos vencer os nossos problemas. Não existe monstrinho nenhum, e se existe, pode ser vencido apenas com força de vontade. E imaginem quando derrotarem o monstrinho! Não sabe tão bem não termos de nos esconder atrás de metáforas e eufemismos?

domingo, 11 de janeiro de 2015

Ela dorme

     Vejo-a a dormir. Está tão calma, tão relaxada. Talvez isso se deva ao facto de ela saber que estou aqui, olhando para ela, apreciando a forma como se mexe inconscientemente na cama e a forma como tira a cabeça da almofada quase sem reparar. Aposto que conseguia deitar-me a seu lado sem a acordar, aninhando-me a seu lado, colocando os meus braços por entre os dela, e abraçando-a. E ela sentir-se-ia segura por eu estar ali, apesar de ainda não saber. Gostava de ver a sua reacção ao acordar. Talvez se assustasse, não era suposto eu estar ali, mas algo me diz que a reacção dela seria apenas admiração... admiração e felicidade. Acordar-me-ia com um suave beijo nos lábios, ao qual eu responderia com um sorriso aberto.
       Sinto-me tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Ela está ali, mas não lhe posso tocar, posso apenas sorrir quando ela treme assim do nada. Antes podia fazer-lhe uma festinha sempre que ela tremia, para ela saber que eu estou ali, que não há nada a temer, que pode voltar ao seu sono descansada porque quando acordasse, a minha cara seria a primeira coisa que veria.
       Se custa? Sim... bastante. Mas eu aguento. Correcção: nós aguentamos. Nós aguentamos tudo um pelo outro e saber que vou poder estar ali ao pé dela a dormir muitas vezes, é motivo suficiente para manter um sorriso na cara. 
       Ela continua a dormir, alheia a todos estes pensamentos que insistem em "assombrar-me" a cabeça. Talvez os descubra de manhã, quando acordar e ler isto. Quer dizer... ela sabe destes pensamentos, ela sabe que eu dava tudo para estar a seu lado, sincronizando o meu bater de coração com o dela. Conto os dias para o poder fazer novamente, para poder adormecer sentindo o seu calor e o seu toque. Falta muito? Falta pouco? O tempo é relativo. Mas para mim falta demasiado tempo, tal é a minha ansiedade para estar com ela, mas ao mesmo tempo, falta tão pouco. Divido o tempo em meses, em semanas ou em dias, de maneira a que pareça o menor tempo possível. Mas por enquanto... ela dorme.